Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços! Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
É mais por que te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, amada...
E sabes de uma coisa? Cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto
Se perto, - que é que eu sei! Essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu, Orfeu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem - nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo! E me dizes essas coisas
Que me dão essa força, essa coragem
Esse orgulho de rei. Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim! Sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou
Pedra rolada. Orfeu menos Eurídice...
Coisa incompreensível! A existência
Sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos. Tu
És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura! Quem
Poderia pensar que Orfeu: Orfeu
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres - que ele, Orfeu
Ficasse assim rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo!
em forma de peça musical do mito grego
de Orfeu transposto à realidade das favelas cariocas.
O espetáculo estreou no Teatro Municipal do Rio de
Janeiro em 25 de setembro de 1956.
A Peça teve cenários de Oscar Niemeyer.
Vinícius declama e teatraliza (com uma flauta pastoral ao fundo) o "Monólogo de Orfeu" composto por ele mesmo e Tom Jobim, especialmente para a peça.
Olá Alba Simões, tudo bem?
ResponderExcluirUma atmosfera de presságios inundou esta união desde o início, o que se concretizou quando a jovem, pouco depois, foi assediada por Aristeu, por sua intensa beleza. Ao escapar de sua perseguição, ela esbarrou em uma serpente e foi picada pelo réptil, o que provocou sua morte.
Incapaz de aceitar este fato, Orfeu declara sua tristeza a mortais e imortais, mas, nada obtendo, vai atrás de sua amada no Inferno. Aí o amante, tocando sua lira, leva Caronte a guiá-lo pelo mundo sombrio dos mortos, ao longo do Rio Estige; entorpece Cérbero, o guardião das portas infernais; seu doce lamento ameniza as torturas das almas aí exiladas; e, diante de Hades, arranca lágrimas do próprio soberano dos desprovidos de vida, o qual, diante dos apelos da esposa Perséfone, permite que Orfeu atravesse os umbrais desta região para buscar Eurídice, mas impõe uma cláusula ao seu contrato verbal.
Minha querida amiga,
ResponderExcluirEste post é uma pintura cultural, própria do Arte.
Que mais posso dizer-lhe? "São demais os perigos dessa vida..."
Soneto do Orfeu
São demais os perigos dessa vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar, que atua desvairado
Vem unir-se uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher
Uma mulher que é feita de música,
Luar e sentimento, e que a vida
Não quer, de tão perfeita
Uma mulher que é como a própria lua:Tão linda que só espalha sofrimento,
Tão cheia de pudor que vive nua.
Beijo, Obrigada pela travessia, sempre.
@Alfeu Gomes
ResponderExcluirObrigada por enriquecer o Post, agregando profundo e rico conhecimento desta passagem fantástica sobre
o Mito Grego de Orfeu e Eurídice!
Um ótimo fim de semana!
Grande abraço.
@Beth Muniz
ResponderExcluirObrigada querida amiga, por sempre estar presente no Arte enriquecendo este espaço com palavras de incentivo e carinho!
O Soneto de Orfeu é maravilhoso, de um lirismo que transcende as paixões!
Um ótimo fim de semana!!!
Beijos com carinho.