28/07/2010

O que temos feito de nós

Olhe para todos a seu redor e veja o que temos feito de nós.
Não temos amado, acima de todas as coisas. 
Não temos aceito o que não entendemos porque não queremos passar por tolos.
Temos amontoado coisas, coisas e coisas, mas não temos um ao outro.
Não temos nenhuma alegria que já não esteja catalogada.
Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmos construímos, 
tememos que sejam armadilhas.
Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida
larga e nós a tememos. 
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo.
Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda.
Temos procurado nos salvar, mas sem usar a palavra salvação
para não nos envergonharmos de ser inocentes.
Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, 
de ciúme e de tantos outros contraditórios.
Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível.
Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa.
Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada.
Temos disfarçado com o pequeno medo 
o grande medo maior e por isso nunca
falamos o que realmente importa.
Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez 
de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.
Não temos sido puros e ingénuos para 
não rirmos de nós mesmos e para que no 
fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" 
e assim não ficarmos
perplexos antes de apagar a luz.
Temos sorrido em público do que não sorriríamos 
quando ficássemos sozinhos.
Temos chamado de fraqueza a nossa candura. 
Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.
E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia... 
Clarice  Lispector
Créditos: Vídeo por David Duarte

10 comentários:

  1. Lindo texto amiga, eu estou aqui presente, não importa em que circunstância for, serei enquanto quiseres seu amigo.
    Abraços forte

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  2. Anônimo17:48

    Nossa,que texto profundo!Usamos mascaras para esconder nossos medos,mas não podemos fugir da verdade nem de nós mesmos.
    Bjos

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  3. Linda postagem!!!
    Parabéns,
    Abraços,
    Rosana

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  4. Otimo post....valeu um clik no patrocinador.depois visite o meu.abç kaju

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  5. Amiga, isso é serio!
    O que temos feito de nós!?!
    Afinal determina o que somos, a nossa felicidade e paz de espírito.
    Bjão.

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  6. Oi querida,
    São tantas perguntas...
    Mas, Clarice é Clarice.
    Só encontro uma resposta: temos tentado sobreviver e nos manter vivos sobre todas as coisas. Às vezes por caminhos tortuosos, ou não.
    Com carinho, te mando um grande beijo.

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  7. olá minha rica flor Alba
    belo post pra se pensar mesmo
    as vezes deixamos a palavra amor de lado
    imploramos salvação
    mas queremos ser salvos?
    amor a imensa força q rege o mundo
    mas sabemos estamos dispostos a amar
    a da amor?
    deixamos nossos pensamentos
    no vazio do nosso eu por medo de sermos
    apontados!
    catologamos nossas alegrias
    mas sera q levamos esta alegria na alma no coração
    aqueles q nos rodeios e aos q viram?
    disfarçamos nossas angustiças
    fechamos nossos olhos
    para parecermos inocente...
    somos indiferentes calamos muitas vezes o som de nosso alma
    por medo? medo de ser nos mesmo?
    amontoamos sentimentos,
    prendemos nossos corações
    nos calamos diante da verdade
    pra poder no culto imenso vazio do nosso eu
    celebrar nossa vitória?
    e no fim ja cansados
    descobrir que tudo mas tudo é tão chato!

    hahaha me impolguei
    mas amei o video
    dei uma viajada legalllll

    bjo enorme Fllor Alba

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  8. Olá Minha querida amiga Alba !!

    Belíssimo texto ! Sou fã de Clarice Lispector, mas não o conhecia.
    Realmente se não nos dermos conta a tempo, acabamos esquecendo nossa essência e por cultivar receios, não nos entregamos de corpo e alma à vida.
    Adorei !
    Um enorme beijo em seu coração !

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  9. As turbulencias do dia-a-dia muitas vezes cobrem os sentidos com fuligem. Inumeras vezes estou respirando fundo, assoprando, sacodindo a poeira, e dando um passo, a frente, bem firme. Não quero cair. Conscientemente, não quero cair.

    Bjs

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  10. Olá minha querida amiga!
    Eu não sei ainda o que temos feito de nós, minha querida! Temos feito de tudo para os outros, mas a pergunta quando dirigida à nós, ficamos sempre pensativos. Acho que nunca é tarde para fazermos de nós algo ou alguém melhor do que isso que apresentamos. A insatisfação não é com o mundo, no final das contas, mas conosco... Podemos ser melhores do que somos, então por que não começarmos já?
    Adoro essas reflexões!
    Grande beijo,
    Jackie

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